Movimento Infantojuvenil Crescendo com Arte
“Uma experiência de vida”
Em 1992, motivada pelo interesse de
minha filha Juliana pela pintura, procurei oportunidades para expor seus
trabalhos e deparei com muitas dificuldades e falta de incentivo à arte infantil.
Resolvi então criar um grupo, que reunisse várias crianças em busca de espaço
para expor suas mensagens artísticas.
Juliana estava com 7 anos, e nunca
se havia prendido por mais que alguns minutos a qualquer atividade. Porém, ao
levá-la para participar de uma oficina de pintura no jardim de uma biblioteca,
surpreendeu-me, ao ficar por várias horas tentando passar para a tela, cenas do
jardim. E na 1ª Mostra da oficina foi
premiada com a tela “O Gato e o Luar”.
Para Juliana, dar as primeiras pinceladas
numa tela, foi como verter água sobre a semente adormecida de uma grande
árvore.
Tal como a árvore, que rasga o ar
com os ramos em busca dos melhores pontos de luz, Juliana, a partir da
experiência com a pintura, diversificou o interesse pelas várias modalidades de
arte, em busca de realização.
Juliana, minha filha, tão ativa, curiosa,
sonhadora, criativa, mas ainda tão pequena para escolher o melhor caminho.
Segurando sua mão, tentei conduzi-la.
Mas, quem conduziu quem?
De mãos dadas descobrimos que nos
realizávamos no mesmo universo. “O Universo da Arte”. Visto apenas por ângulos
diferentes.
... Juliana, além de pintar, desenha, toca
piano, teclado e violão, participou de um coral, de três grupos de teatro, de
oficinas literárias e aprendeu, praticamente, todas as modalidades de dança.
... Eu, planejo, organizo e coordeno
exposições, apresentações, recitais, performances, workshops e oficinas de
artes para crianças, jovens e adultos.
E como resultado dessa afinidade
nasceu o MICA
Movimento Infantojuvenil Crescendo com Arte
Para chegar a todas as atividades
que hoje o MICA realiza, os caminhos foram difíceis. Superei obstáculos, desde
a falta de locais para expor os trabalhos
e desenvolver oficinas até o preconceito e desinteresse com a arte
infantil.
Quando eu levava minha filha para
fazer as muitas atividades de arte, que ela mesma pedia, eu era muito
criticada. Era acusada de que eu não lhe deixava sobrar tempo para brincar e
estudar.
Mas, o que eu vivenciei não foi um
erro. Muito pelo contrário. A facilidade que Juliana passara a ter para fazer
amigos e para assimilar todos os conceitos e aplicá-los era evidente.
E, depois de criar o MICA, quantas
surpresas eu tive com aqueles que passaram a participar:
...Há crianças que só conseguem
expor suas emoções através da arte!
...Há jovens que descobrem seus
verdadeiros valores e ideais!
...Há pais que passam a conhecer
melhor seus filhos !
...Há professores que descobrem e
passam a desenvolver o potencial latente de seus alunos!
Diante desses resultados, em pouco
tempo, o MICA transformou-se numa ação independente, sem sede, sem
patrocinadores, mas onde a vontade de centenas de crianças e jovens e de um
grupo de professores voluntários, faz com que, a cada encontro, haja um diálogo
na sintonia da arte.
Felizmente, com o passar do tempo,
muitos diretores de espaços culturais passaram a acreditar na importância dos
projetos do MICA e a confiar na seriedade de nosso trabalho voluntário e então,
muitas portas se abriram.
Eu não tenho formação em Artes.
Cursei a Faculdade de Biologia e a Faculdade de Educação. Lecionei e fui
coordenadora pedagógica em Escolas Públicas. Gostava muito do meu trabalho, no
entanto, minha maior realização profissional aconteceu como voluntária na
criação e coordenação do MICA. E estou consciente de minha pequena, mas
efetiva, contribuição à sociedade.
Ao fundar o MICA, criei
oportunidades para que crianças e jovens façam arte, e que, muitas vezes,
através de seus trabalhos, encontrem respostas para a vida.
Mas, o MICA não sobreviveria sem os conhecimentos e a
atuação dos professores voluntários. São eles, munidos apenas com a vontade de
ensinar e ajudar, que dão sustento e crescimento a ideia inicial.
Minha filha foi a grande motivadora e incentivadora. Ela me ensinou o
que não aprendi na escola.
Aos 12 anos, Juliana decidiu que sua
realização estava na dança. Aos 14 anos foi selecionada para um Grupo de Dança.
Estudou ballet e várias outras modalidades de dança em três escolas e formou-se
em ballet clássico na Royal Academy of Dance. Sobre a pintura, onde tudo
começou, ela dizia: “São os momentos em que encontro muita paz”.
Foram muitos os prêmios que Juliana conquistou
na dança. Participou por vários anos do Festival Internacional de Joinville. Em
2000, alcançou o privilégio de se apresentar no Teatro Municipal de São Paulo,
quando conquistou o 1º lugar no Enda - Encontro Nacional de Dança. Comparou essa vitória como ir a uma Olimpíada
e ganhar uma medalha de ouro.
Juliana
dançou em muitos locais, os mais diversos. Dançou desde o impecável palco do
Teatro Municipal de São Paulo ao asfalto do sambódromo, quando por 3 anos
participou da Comissão de Frente da Escola de Samba X9 Paulistana.
Nunca me preocupei se minha filha
viria a ser uma artista. No meu entender, para se fazer arte, não é necessário
tornar-se artista profissional.
Mas sempre tive a certeza, porém, de
que qualquer que viesse a ser a sua escolha no futuro, todas as atividades que Juliana realizou na arte, desenvolveram
muito o seu potencial criativo, contribuindo para o fortalecimento de sua
personalidade e para torná-la emocional, social e intelectualmente mais segura.
Juliana, minha filha,
formou-se em Educação Física, fez pós-graduação em “Atividade Motora Adaptada”
para deficientes físicos, é personal trainer de pessoas com alguma necessidade
física especial, dedicou-se ao ensino de ballet
para crianças e jovens com deficiências visuais e auditivas, foi
voluntária do CIEDEF - Centro para Integração Esportiva do Deficiente Físico
desde os primeiros anos de faculdade, depois de formada, foi voluntária de uma
ONG de atendimento a crianças e adultos com deficiências e tornou-se árbitra do
Comitê Paralímpico. E, desde agosto de
2011, assumiu o cargo de Assistente Técnica no Comitê Paralímpico Brasileiro -
CPB, em Brasília.
Hoje,
20 anos depois dos primeiros passos, faço a seguinte avaliação:
O mais importante, em toda esta
nossa história vivida, é que Juliana e as centenas de crianças e jovens que
participaram e participam dos Projetos e das Oficinas do MICA crescem felizes !
Maria José Soares